(Conto publicado na Antologia de Contos Fantásticos da CBJE 18°Vol.)
Escrevo esta história para impedir que suma no tempo espaço.
Deputado Ananias Fiofônio era a maior esperança do povo de Ramalhão do Saco Torto, cidadezinha situada entre Recanto do Lagarto Magro e a ‘PQP’ da Serra Escaldante. Agora o lugar esquecido nos mapas teria voz no Planalto Central. As tão sonhadas melhorias chegariam lá também. Ramalhão é evolução! Fiofônio é a solução!
O problema do ‘Deputado-Coronel’ Ananias foi o cartão ‘Di grátis’. Mas... Acredito que não foi por mal...
- Jupiraçú, meu filho, veja você como são os mimos do ‘púder’... Mês passado eu ganhei esse cartão aqui, comprei uma penca de troço, e até agora o banco do governo não me mandou a conta pra pagar...
O assessor arregalou os olhos
- Deve estar atrasada deputado...
- Que nada! Também pensei que estivesse... Mas eu to achando é que esse cartão não tem conta nenhuma, é ‘Di grátis!
- ‘Di grátis’?!
- É, ué! Deve ser por merecimento...! Afinal de contas nós somos os representantes do povo; é como se o governo estivesse agradando ao povo diretamente.
- Então o senhor pode comprar o que quiser?!!
- É claro Jupiraçú! O púder é o púder! Eles me dão quanto dinheiro eu quiser, e eu ajudo o povo a minha maneira. Deve ser assim que funciona...
O Deputado coloca o cartão na palma da mão, e ambos ficam a fitá-lo por minutos de silêncio. Ananias segura o queixo e suspira poderoso; Jupiraçú coça a nuca...
-... Mas Deputado... E por que é que ninguém fala desse cartão ‘Di grátis’?!
- Por que ninguém quer fazer alarde, homem!!
Mais uns minutos de silêncio e contemplação... Até o assessor prosseguir cautelosamente curioso.
- E o senhor, ‘echelência’...? Já sabe o que vai fazer com ele...?
- Olhe Jupiraçú, meu filho... Muitas coisas... Mas primeiro; vou comprar uma Hidromassagem francesa que eu vi na CARAS!
E do cartão corporativo do Deputado Federal Ananias Fiofônio, entre casas de praia, automóveis de luxo, passarinhos raros, e incontáveis pastéis de vento, pipocou a lista mais exótica de gastos da história de Brasília. Todos pagos com dinheiro público. Mas... Acredito que não foi por mal.
Otima proposta, inteligência e conceito neste blog!
ResponderExcluirsinceramente, parabéns!
te sigo!