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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VOTO ‘POMBAGIRA CAPIM’



E foi lá naquela cidadezinha, que um fato inédito surpreendeu os vinte mil habitantes na última eleição.

Logo pela manhã os entrevistadores estavam a postos; num lugar daquelas dimensões não seria nada difícil conseguir um resultado seguro de antemão. E antes do meio-dia já chegava o incrível resultado das pesquisas: A eleição estava rigorosamente empatada! Porém, havia outro fator ainda mais intrigante: Dentre todos os entrevistados, apenas um respondeu estar indeciso.
Após tomarem conhecimento da novidade, se encontravam lado a lado na porta de uma humilde residência os dois candidatos, situação e oposição, dispostos a venderem a alma caso fosse para conseguirem o voto da sorte!
Quando a porta se abriu...

Oposição: Meu amigo! Meu companheiro de jornada! Meu conterrâneo! Como vai?!
Situação: Meu caríssimo eleitor! Sinto-me iluminado perante ilustríssima figura!
O homem quase cai pra trás.
Indeciso: Vocês!!! O que estão fazendo aqui?!
Oposição: Viemos conhecer o eleitor mais ilustre e importante dessas eleições!
Indeciso: EU?!
Situação: É claro! Neste caso, apesar de fato raro, tenho de concordar com este calhorda... O senhor já votou?!
Indeciso: Não... Eu tava indo agora, mas...
O candidato da oposição o interrompe eufórico.
Oposição: UFAA! Pu** que o p**iu!
Situação: Veja bem! Isso é linguajar de um candidato?!
Oposição: Não tenho culpa de ser espontâneo e deixar falar meus sentimentos. Esse é um traço forte que meu eleitor valoriza muito!
Situação: Ah, é?! Se eu soubesse que seu eleitorado gosta de espontaneidade, teria mandado o amigo candidato tomar no c* em pleno palanque!
Oposição: É bem de acordo com sua reputação imunda de plagiador barato e ladrão.
Situação: Olhe bem seu monte de estrume...
O indeciso interrompe ainda confuso.
Indeciso: Não entendo mais nada. Será possível, vieram brigar aqui também?! É pegadinha isso?
Situação: De forma alguma! Longe de mim, trazer ao senhor qualquer tipo de aborrecimento.
Oposição: Vamos diretamente ao ponto, meu amigo: O senhor é quem vai decidir essa eleição!
Indeciso: O quê isso doutor?! Eu sou caminhoneiro! Como é que vou decidir alguma coisa política?!
Situação: A eleição está empatada, e as pesquisas dizem que seu voto é o único indeciso em toda a cidade!
Oposição: Exato! O amigo eleitor pode me pedir o que quiser, viu?
Situação: Pra mim também! Aliás, só em mim o senhor pode confiar!
Oposição: Ora, não me faça rir! Não era o amigo que fumava certo capim proibido na adolescência?
Situação: Como ficou sabendo disso?! Foi aquela ‘Pombagira’ cigana que o senhor incorporou na igreja ontem? Só pode.
Oposição: ERA UM ENCOSTO!
Situação: Não, o senhor é médium, um ‘crente’ médium. E tem uma bela ‘Pombagira’ de frente que o guarda!
Oposição: Ora seu... Seu herege caluniador! Macumbeiro!
Como que não ouvindo a lavação de roupa suja, o indeciso que aparentava até então ser um homem bem simples e ludibriável deu um grito mais que autoritário.
Indeciso: FINGE DE MORTO!
Situação e Oposição: O quê?...
Indeciso: Isso mesmo. Não querem meu voto? Terão de fazer o que eu mandar!
Situação: Mas... Mas eu posso lhe dar dinheiro! Cargo público!
Oposição: Uma casa, um negócio; posso dar o meu carro se o senhor quiser, agora mesmo...
Indeciso: FINGE DE MORTO! ANDA LOGO!

No desenrolar da cena ridícula, os candidatos deitaram no chão, correram, brincaram de ciranda cirandinha; pularam carniça, subiram na goiabeira, e até roubaram ovos do ninho de uma coruja!
O antes indeciso, e agora bem decidido, foi votar pensando em tudo que se passara pouco antes. Decidiu votar em branco.

Decidido: Ta é doido... Se pra convencer um humilde caminhoneiro como eu eles fizeram aquela palhaçada toda, imagine pra conseguir dinheiro de investidor! Coitada da cidade... Ta é doido... Minha alma não!

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