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domingo, 9 de janeiro de 2011

O Escritor X Ele próprio


Texto de Allan Pitz


Deve haver no mundo inteiro, agora mesmo, um imenso número de pessoas que dedicam seu tempo à escrita de livros. Sejam eles quais forem, são todos livros: ideias. Papel. Mensagens.

Deve haver nesse mesmo mundo, agora, entremeado da linha do tempo x espaço, milhões de ofertas melhores do que sentar a bunda numa cadeira e escrever. Pergunte ao Google, o titio Google pode lhe dar 88 bilhões de motivações “melhores” do que escrever no subúrbio de um país tropical, refém de um calor insuportável, refém da própria fantasia, ficção que brota sei lá de onde pra satisfazer (ou não) alguém que lerá um dia... Mas o cara escreve. Sabe que só serve pra isso. Ele escreve.

A bela mulher no seu palácio refrigerado, com todos os rapazes gloriosos e prazeres aos seus pés - pasmem – também prefere escrever. O forte, o feio, o bonito, o fraco, o intelectual, o teatral, os doidões, os caretas, todos eles também escrevem. Existem escritores de muitas tribos, e a motivação de cada um é um cofre que só o próprio autor conhece por inteiro. A motivação de cada um para sentar a bunda numa cadeira e escrever suas amplitudes mentais até a morte é digna de um estudo freudiano incessante! Mas uma coisa é universal: o escritor é, acima e antes de tudo, um grande egoísta nato. E o “mundo é tão mundo”, que ele precisa, por vezes, recriar o seu universo paralelo. Assim, quem sabe, não acaba ajudando o mundo onde vive por obrigação (senão, rabiscava outro mundo melhor).

Eu poderia prosseguir, comparando o escritor de hoje aos homens que sonhavam voar como os pássaros, antes do avião ser inventado. Nutriam aquele egoísmo natural por uma coisa que lhes satisfaziam a imaginação. Mas não havia maldade naquele egoísmo − jamais houve −, porque, invariavelmente, habita em todos os seres humanos esse impulso particular tão nosso, que nos impelirá a algum lugar. E assim voamos. E assim escrevemos. E assim sonhamos. E assim partimos daqui.

O escritor vive uma luta contra si próprio, contra as ofertas que se apresentam a ele, os problemas, as abduções da sociedade padrão, os seus próprios sentimentos, as aflições. Deve ler, estudar, interagir, saber se expressar, demonstrar conteúdo, tentar fazer alianças, ser paciente, não revidar ofensas, expandir suas mensagens (Ultra man!). E ainda tentar entender os outros escritores, ter ponderação com as palavras, evitar confrontos, principalmente com aqueles autores que possuem uma rede extensa de bons amigos virtuais.

O escritor briga consigo mesmo e a situação real dos livros; então, devemos esperar para ver quem ficará de pé ao final: o escritor ou ele próprio. Não podemos avaliar a palavra escritor por nenhum padrão definido, a não ser o de “pessoa comum que escreve”. Podem ser muitos, ou aparentarem milhões de coisas diferentes. Mas são apenas pessoas que escrevem. E, no íntimo, lutam contra si próprios para continuar escrevendo e sonhando. Oferecendo ao mundo (que já tem tanto e tão pouco) seus humildes pedaços escritos, jogados na linha do tempo.

6 comentários:

  1. Lindo texto, Allan! Todos nós, seres humanos, somos recriadores de mundos paralelos. O escritor,talvez, seja apenas mais corajoso ao se expor e propalar isso aos quatro ventos. Quantos não há os que simplesmente se escondem e criam recalques, psicoses,neuroses ou projeções?

    Vamos escrever, que é uma santa terapia!!

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  2. Olá, Kyanja!

    Muito obrigado, minha amiga. Foi um pensamento jogado no cosmo.

    Escrever é a minha única forma de seguir vivendo.
    Não sei se o o mundo dos livros gostará do Pitz... Mas é um jogo que preciso jogar e seguir jogando.

    Bjos.

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  3. Nossa, Allan *-* Esse texto é lindo demais!!! Dá até vontade de ser uma escritora só para que essas palavras também falem do meu mundo ^^ heheh

    Beijos,

    Nanie
    http://naniedias.blogspot.com

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  4. Parece difícil... São tantas coisa para se ver, lugares para ir, opções de entreterimento, festas... Entendo esse lance do escritor brigar com ele própio. Gostei, deu vontade de rabiscar alguns pensamentos.

    Um grande Abraço.

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  5. Felipe @impurificavel11 de janeiro de 2011 às 17:07

    É isso companheiro. Seguimos escrevendo!

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  6. Gente boa na área!

    Fiquei feliz com os comentários de vocês. Muito obrigado! É um texto que fala sobre o escritor, mas puxei muito para a minha visão toda da coisa (pois é). Cada escritor é uma galáxia diferente.

    Nanie - Talento para escrever não lhe falta (seu blog é prova disso)! Manda brasa. Bjão!

    Brito - É, meu amigo, a sociedade chama para muitas coisas, tudo é uma questão de tentar administrar o seu sonho. Rabisque esses pensamentos! Abração.

    Felipão - Seguimos nessa cachaça maluca (bom demais)! Gostei de te ver comentando aqui.

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Este blog surgiu após inúmeras recomendações, broncas, cascudos e beliscões de conhecidos. Aqui está, enfim, um espaço próprio para o escritor Allan Pitz publicar suas "Patavinices", seus textos, seus livros, e tudo o mais que o tempo for lhe guiando e desenvolvendo.

Obrigado pelo incentivo de todos.