Então, me senti, naquele momento, obrigado a compartilhar desse entendimento novo que me expandiu interiormente, e decidi escrever um livro que servisse de “aquecimento poético” para outras leituras mais intensas, carregadas, seduzindo novos leitores para um gênero simples e compreensível; leitores como eu, que achavam poetas e poemas uma grande bobagem estética (mil perdões).
Devo muito desse livro ao meu bairro, devo muito desse trabalho ao subúrbio carioca, devo principalmente por toda a inspiração. Estavam nas cabeças não poéticas, nas mãos vazias, as forças novas que somei para tentar inspirar o povo, reaproximar o poema de forma simples, despretensiosa, fazendo-os berrar as notas de seus significados tolos ou ricos, e só. Imaginava esse trabalho ajudando num novo processo de reapresentação poética do agora, sei lá, utopia por fim; mas eu imaginava esse livro pelo Brasil num bolso surrado de calça jeans, numa mochila remendada de escola, num macacão de operário... Ilusão, claro, combustível que sempre move os poetas, a ilusão de que, sentados em doces sonhos, abriremos facilmente o mar vermelho.
Estou lá (com muito orgulho); escrevi daqui; e poderei um dia dizer que tentei, sem armas letais, mudar o giro das coisas ruins que se apresentaram; tive vontade de mudar. Obrigado, meu subúrbio tão maltratado, obrigado, favela que salta aos olhos no horizonte, obrigado por fazer espelho em um garoto simples, amigo de futebol e sinuca, filho da terra, para poder chegar tão longe levando um pedacinho esperançoso de cada um de vocês que, involuntariamente ou não, ajudaram a construir o Allan Pitz escritor.
Trocaremos qualquer arma por sorrisos. As águas serão apenas amigas.
(Dedico esse livro a todas as vítimas das enchentes do Rio de Janeiro, minha cidade. Deus está olhando por nós.)
Dois poemas do livro:
HOJE NÃO AMO
Hoje não amo.
Mas amei muito,
Amei tanto que a alma ainda dói.
Hoje não choro.
Ontem chorava,
Chorei tanto que inundei o raciocínio.
Hoje não odeio.
Noutro dia odiava!
Foi tanto ódio, que rasgou no meu umbigo.
Hoje entendo;
Antigamente ensinava.
Hoje recuo;
Quando primeiro atacava.
Hoje sou chuva;
Mas não me dobro por água.
Hoje sou nada...
Aprendendo ser tudo.
Um tudo;
Compreendendo a grandeza do nada.
Hoje não amo.
Mas amei muito...
Amei tanto que a alma ainda dói!
FOLHA DE GELO
Refletido em raios na folha
Abraçado por camada de gelo fino,
Fez o Sol um aparecer de gala
Esbaldando a grama seca em sorriso.
E no calor dos galhos antes secos
Emoldurado em gigantesco vazio,
Reaparecem lentas verdes folhas
Comemorando não sentir mais frio.
Seremos tolos se só formos gelo,
Mais tolo ainda quem viver de fogo.
Dividiremos as regras do jogo;
Balanceando quando for preciso.
Pergunto ao caule sobre a solidão,
Revendo o galho antes tão sozinho...
Eu sendo fruto que não quer colheita,
Sou folha seca com gelo fininho.
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