O convidado da vez é o grande escritor gaúcho Fabian Balbinot, espero que vocês apreciem seu texto tanto quanto eu apreciei!Não tem nada pior do que o Excesso e a Falta!Nunca em minha vida vi dois antônimos serem tão entrelaçados, tão unha-e-carne quanto os termos gêmeos bivitelinos
Excesso e
Falta.
Incrível como esse casal de filhos da puta adverbiais, crias da moda
style fashion humana contemporânea, conseguem ser tão grudados um no outro. Andam sempre juntos, frequentam as mesmas festas, aporrinham o saco das mesmas pessoas, praticamente ao mesmo tempo, mesmo sendo tão diferentes, vestindo roupas e usando penteados completamente avessos um em relação ao outro, praticamente opostos em todos os seus pontos de vista...
Veja só o meu caso: graças à publicação de meu livro
Doença e Cura, e às trocas que andei fazendo com outros
bloggers e escritores, consegui encher minha estante de livros, livretos, manuais, bíblias e outras tantas publicações. Estou com
Excesso de livros pra ler, e, por conseguinte,
Falta tempo.
Já fui fã de videogames, e, em tempos idos, antes do advento dos computadores, e dos emuladores, e dos copiadores, e dos plagiadores, e dos surrupiadores, o que havia eram cartuchos plásticos com jogos metidos lá dentro, variando de Pac Man a Super Mario, conforme as evoluções se sucediam. Nessa época, só se conseguia os ditos cartuchos de videogame comprando ou locando. E eram tantos cartuchos... um
Excesso de títulos diferentes, e a total
Falta de dinheiro para se locar ou comprar mais de um por vez.
Veio a informática, e com ela os tais emuladores, e copiadores, e plagiadores, e surrupiadores, e quando vi, meu adorável
desktop possuía não menos que alguns milhares de jogos diferentes.
Excesso de opções, combatidos pela
Falta de interesse na grande maioria delas - jogos demais, repetidos demais, muitos idênticos demais. Impossível mesmo querer jogar todos.
E nem vou me deter no hoje em dia, em que o
Excesso de títulos de jogos de videogame esbarra e acompanha a
Falta de variedade no design. É um tal de jogo de esporte, jogo de ação, jogo de tiro, jogo de esporte, jogo de ação, jogo de tiro, jogo de esporte, jogo de ação, jogo de tiro, repita
ad nauseam.
Excesso de carros iguais nas ruas em decorrência à
Falta de criatividade dos designers, ou talvez fosse
Excesso de regras e padrões para que sejam desenvolvidos carros, ocasionando
Falta de inovações.
Ora, são tantas as brincadeiras e cirandas contextuais que se pode fazer com essas duas palavras,
Excesso e
Falta. A relação do casal chega a parecer incestuosa, tão grudados que esses dois são.
Excesso de trabalho,
Falta de tempo.
Excesso de tempo,
Falta de dinheiro.
Excesso de dinheiro,
Falta do que fazer com ele. Vá trabalhar, vagabundo!
Excesso de crime,
Falta de prisões.
Excesso de prisões,
Falta de controle com o erário público.
Excesso de controle,
Falta de liberdade.
Excesso de liberdade,
Falta de vergonha na cara, de moral... e, de novo,
Excesso de crime.
Excesso de pessoas,
Falta de preservativos, ou de comida, ou de lugar para acomodá-las... enfim.
Falta melanina?
Excesso de sol? Câncer de pele.
Excesso de músculos,
Falta de cérebro.
Excesso de sinceridade ou
Falta de educação?
Falta de vitaminas? Pior ainda se elas forem em
Excesso. Um horror!
E nessa minha busca pelo auge do desequilíbrio, chego a cogitar mesmo os
Excessos de Faltas, que me fazem lembrar o futebol de várzea e o serviço público, e as
Faltas de Excessos, que me cheiram a... sei lá... modorra, inanição, Excesso de virtuosismo ou de crença ou de fé, Falta de inteligência e de discernimento. Um martírio.
Parece até que se
Faltam Faltas, ou
Excedem Excessos, assim, ao quadrado, os problemas também se tornarão geometricamente piores: fundamentalismo, intransigência, narcisismo, ditadura, burrice, egolatria, vício, suicídio... e por aí vai.
Céus! Já repeti tantas vezes a palavra
Excesso neste texto que chego a achar que estou com
Falta de imaginação. Melhor parar por aqui, afinal, depois de tantos exemplos, me parece óbvio que...
Não tem nada pior do que o
Excesso e a
Falta!
Fabian BalbinotNascido em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, em 2 de julho de 1972, Fabian Balbinot é escritor, tradutor e revisor, designer de jogos, de textos e de web, desenhista, e atualmente vem trabalhando com vendas por força do destino.
Em 2005 desenvolveu o website MagicJebb.com.br - o primeiro catálogo em português para o jogo de cards Magic the Gathering. Em 2010 publicou seu primeiro livro, o romance de terror Doença e Cura.
Leia mais em:
http://magicjebb.blogspot.com/
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