A Caixa Preta
Mini conto de Allan PitzEstou no interior de uma caixa escura, claustrofóbica; o objetivo de ali me encontrar é uma incógnita sobrehumana aos vivos.
Vez por outra acendo um fósforo... Vejo-o queimar... As paredes de chumbo não se aquecem com um pequeno fósforo aceso; não há risco de incendiar nada. Nem o meu corpo nu é um corpo inflamável. Não há vinho, não há nada...
Relembro uma canção que fala sobre escadas, amores, elevação do ser, evolução, essas merdas todas... A caixa não me permite pensar de maneira clara; as cenas e propostas intencionam embaralhar minhas ideias, diferentemente do que na verdade penso e devo escrever. A sinceridade some, se a alma teimar em ficar reclusa numa caixa preta... Devemos buscá-la.
Outro fósforo. Restam cinco na caixa de fósforos. Eu preciso ver a luz.
Agora, a caixa em que me encontro move-se lentamente até um depósito sombrio. São horas e horas de aflição num galpão antigo, sem iluminação, junto a milhares de caixas iguais. Ouço alguns chorinhos infantis, outros berreiros grossos, gritaria de adultos, enquanto o meu próprio choro não se faz ouvir sozinho: somos um coro triste. Ruído único, distorcido, causador de incrível mal-estar.
Uma luz celestial abriu a caixa, retirando-me do que eu percebi
– enquanto voava - ser um navio cargueiro, na escuridão dos mares, quebrando infinitos icebergs azuis.
Prometi à luz de resgate que tentaria não voltar. Mas a caixa preta nos leva sorrateiramente, aprisiona nossas forças e as usa como bateria, conduzindo-nos, semivivos, até os confins maléficos de seus icebergs.
Oi Adorei o seu blog, visite o meu de textos,obrigado, até mais. ;)
ResponderExcluirOlá, Iara!
ResponderExcluirMuito obrigado, já estou seguindo seu blog.
Temos algumas coisas parecidas.
Um abraço!