Conto de Allan Pitz A saleta de minha casa, onde eu tento viver e trabalhar, é sempre uma zona de guerra permanente. Papéis amontoados sobre os móveis; livros por toda parte; copos sujos com restos de bebidas; cinzeiros entulhados com guimbas de cigarro...
Na internet, consigo descolar boas rádios de jazz ou rock clássico, o que me ajuda na inspiração para escrever. Mas, escrever o quê? O de sempre: perdedores, desventurados, cornos, assassinos, idiotas, mulheres enigmáticas, loucos... Deve ser a busca para encontrar um cara mais idiota do que eu, uma história melhor do que a minha; não deve ser tão difícil assim. Já encontrei alguns burros legais, mas sempre eram menos imbecis, ao final, se fossem bem avaliados. Levaram a faculdade a sério, seguiram alguma carreira, focaram em algo socialmente concreto. Eu, não... Primeiro foi o teatro, depois os textos, os poemas, os romances... Sempre fui ligado a essa droga artística toda; esse encosto ferrado, travestido de fantasia; não há como fugir de quem você é. Por isso, os bolsos estão sempre vazios. Pagar as contas, o cigarro, o vinho: é quase um milagre... Uma utopia...
Tento escrever à uma hora da manhã neste calor carioca infernal. Lá fora, os tiros pipocam numa favela próxima. Os cachorros volta e meia armam um escândalo daqueles. Os tiros, por pouco, quase matam a loira gostosa sentada no meu sofá; eu estava escrevendo sobre ela, inda há pouco. A garota não existe – infelizmente -, mas está ali, agora, me olhando safada entre os Trópicos de Henry Miller, atiçando no vestidinho vermelho, toda boa, ao mesmo tempo em que escrevo e penso sobre ela.
Basta criar um poema para tudo parecer melhor; um rabisco de luz e tudo pode se transformar em paz de espírito, em melodia, sensação; uma letra é o sol, nesse caso... Deve ser isso aí mesmo. Escrevo do inferno, é verdade; mas não são cartas endereçadas ao diabo. São cartas de sonhos que, talvez, cheguem ao céu, que não verei daqui.
Finalmente, abro minha caixa de mensagens pela última vez no dia, tentando não ser ansioso com as respostas que espero, porém não quis ver antes. Lá está o maldito e-mail que eu não queria ler:
“Caro Matheus Fritz,
Seu texto é radical e incoerente, e sua postura alienada como autor dos fatos narrados nos pareceu ‘tipicamente adolescente’. Mediante esses argumentos, torna-se inviável a publicação de seu livro pela nossa editora.”
- Mais uma recusa - pensei. - dane-se; não é só por eles.
A loira gostosa sumiu, o vinho acabou. Amanhã é outra história.
Caro escritor,
ResponderExcluirSempre haverá um paraíso perdido nos infernos que se apresentam pela vida.
Gostei demais de seus textos, cada um vai por um lado, mas sua maneira de escrever direciona-os a um só lado, que é o do seu sentimento escrito e sem paredes.
Parabéns!
Agora sou Paquidérmico também!
Abração do Rubin.
Oi Rubin!
ResponderExcluirVerdade, o paraíso pode ser como um estado de espírito: não interessa onde e como vc esteja, se o paraíso já está dentro de você.
Deixo correr a escrita livremente; gostar dos meus textos é passear nessa montanha russa de possibilidades que eu vou criando loucamente. Nem sempre acerto a mão.
Seja bem vindo ao Paquidermes! Muito obrigado!
Abração!
Gostei bastante do seu blog
ResponderExcluirMuito bonito, sem contar nos textos que são ótimos. Continue assim, vou recomendar para os meus amigos!
boa sorte nessa batalha.
Muito obrigado, Luiz!
ResponderExcluirVamos com fé.
Seja bem vindo ao Paquidermes.